“Por detrás do arco-íris, além do horizonte, há um mundo encantado
feito pra você...” Esses versos bem poderiam representar a indicação do
“endereço” do Clube da Criança no imaginário infantil dos anos 80. Não por
acaso, são eles que abrem o primeiro e
único disco “Clube da Criança”, lançado em 27 de março de 1984.
Você já assimilou a data com o
aniversário de uma certa loira, certo? Bom... o caminho é por aí, mas dessa vez
nossas atenções serão divididas entre a fundadora desse Clube, a ilustríssima
Xuxa,e seus dois sócios honorários: Patrícia Marx e Luciano Nassin.
As carreiras fonográficas dos
dois maiores sucessos em vendas de discos infantis partem do mesmo ponto: Xuxa e Trem da Alegria começaram no disco
“Clube da Criança”. E para nos conduzir nessa volta ao tempo ninguém melhor
do que o idealizador de todo esse projeto: Paulo Massadas. Prontos? O nosso “Carrossel”
já vai começar a girar...
Clube da Criança - O Disco: Xuxa, a "sócia fundadora", Patrícia & Luciano, os "sócios honorários" e Paulo Massadas, o idealizador nosso guia nessa viagem através do tempo
🎼MPB – Música Para
Baixinhos
Entre 1983 e 1984, o mercado
fonográfico enfrentava uma crise que fez o Brasil cair alguns
lugares entre os maiores consumidores de discos. Na contramão dessa situação, um filão se destacava e continuava
crescendo: o da música infantil. Hoje pode parecer estranho falar de
sucesso na música infantil sem que haja um disco de Xuxa no meio, mas até 1984,
o destaque era a Turma do Balão Mágico,
que bateu a incrível marca de 1,23 milhões de cópias do seu segundo disco (até
então só Roberto Carlos tinha passado do 1 milhão).
Portanto, a gravadora que quisesse se livrar da crise, precisava investir nas crianças e até mesmo artistas que já
tinham uma discografia sólida começaram a se abrir para projetos infantis. Bons
exemplos são Maria Bethânia e “Brincar de
viver”, Raul Seixas e “Carimbador
Maluco” no disco “Pluct Plact Zuum”,
Guilherme Arantes e “Lindo Balão Azul”...
todos entre as mais tocadas nas rádios e originários de especiais de TV
infantis.
Antes de Xuxa: o número de faixas infantis entre as mais pedidas das rádios era algo inédito. Se hoje crianças consomem música adulta, em meados dos anos 80, os adultos que demandavam boa parte dos temas infantis
Uma gravadora em particular, a
RCA Victor, sentia a crise fonográfica mais de perto e amargava um lugar nada confortável nas
vendas (mesmo tendo em seu catálogo nomes como “Os Menudos”). Para reverter a situação ela
precisava se reinventar, trazer o novo. Foi quando o então diretor artístico,Miguel Plopschi,recorreu a Paulo Massadas e Michael Sullivan. A dupla estava sob os
holofotes graças ao sucesso “Me Dê Motivo”
(gravado por Tim Maia), mas já conhecia Plopschi de outros trabalhos e resolveu
encarar o desafio.
Massadas e Sullivan: convite para a nova gravadora, a RCA
🎼MPB – Massadas Para
Baixinhos
Paulo Massadas dispensa
apresentações; cada um de nós sabe, no mínimo, uma dúzia de composições dele (e
Sullivan) de trás para frente, de frente para trás. O que você pode não saber é
a ligação de Paulo com o universo
infantil.E, coincidentemente, isso já começa no
nascimento: aniversariante do dia 12 de outubro, sua primeira música composta
foi infantil: “O Mago de Pornóis”,
gravada por Vanusa e lançada em 1973.
Massadas já acalentava a ideia de
fazer um projeto infantil há algum tempo e o momento não poderia ser mais
favorável para colocá-lo em prática: ascensão do mercado de músicas infantis e
casa nova onde poderia desenvolver seu projeto com mais liberdade:
Eu já havia falado com o Sullivan que
precisávamos criar um projeto infantil. Já tínhamos até um nome provisório: A CARRUAGEM ENCANTADA. Quando fomos pra
RCA, resolvemos tirar isso do papel e decidimos tudo em uma só noite para já no
dia seguinte mostrar à gravadora.
Vanusa gravou a primeira composição de Massadas: uma música infantil. A faixa ganhou até clipe no Fantástico (Rede Globo), isso que podemos chamar de uma estreia e tanto!
👧👦A chegada de Patrícia e
Luciano
O disco ainda não era do “Clube
da Criança”, era o projeto infantil da
RCA e a gravadora queria mais novidade. O “Balão Mágico” havia estourado, era de
outra gravadora e de certa forma não pretendia sair de sua zona de conforto: as
adaptações de músicas estrangeiras feitas por Edgard Poças. A solução era
correr atrás de crianças tão carismáticas quanto.
Houve uma pesquisa realizada pela gravadora
em São Paulo e eles ficaram sabendo da Patrícia e o Luciano, duas crianças
talentosíssimas que já cantavam em shows de calouros, concursos e festivais. Eram
o que precisávamos: crianças e com um potencial de voz incrível. Nós apostamos
neles. Com a música certa, eles dariam certo. De qualquer maneira, dariam
certo.
Patrícia e Luciano: duas crianças prodígio que já se apresentavam em shows de calouros e festivais de música
🍫É de Chocolate
A faixa que abre o disco também
foi a primeira a ser gravada. Antes mesmo da gravadora se decidir por Patrícia
e Luciano a composição já estava pronta a espera de seus intérpretes:
Precisávamos de uma primeira música. No
apartamento do Sullivan, nos questionamos: e agora, vamos falar de que? Tinha
que ser uma coisa arrasadora, impactante, afinal era a abertura do disco. Veio
aquele estalo: ‘quando você quer agradar uma criança de imediato, ou você dá um
sorvete ou um chocolate...’ A primeira vez que uma criança prova o chocolate, a
vida dela muda. Então já que o chocolate é tão universal, por que não um tema
como esse? “Vou te mostrar que é de chocolate, de chocolate o amor é feito...”
(cantarolando), o processo de composição foi muito fácil.
Levamos para a gravadora a música gravada só
com violão e nossa voz. Quando o Miguel ouviu ele não entendeu nada daquilo,
era uma coisa extremamente nova, algo que ninguém estava preparado. Havia uma
carência de novidade no mercado infantil. Quando mostramos a música os caras
não botaram fé. Todos ficaram com um pé atrás. Foi passando de diretor para
diretor, até que eles resolveram arriscar.
O processo de gravação
de “É de Chocolate” e as inovações de Lincoln Olivetti
Então lá fomos nós gravar a primeira música
do disco. A guitarra da introdução é do Robertinho do Recife, que também faz os
vocais da música junto com a então esposa, Emilinha. Os arranjos são do Lincoln
Olivetti. No dia de gravar a música foi engraçado, pois quando eu cheguei no
estúdio vi tudo vazio, não tinha ninguém. “Onde está todo mundo?” - Vi um setup
com vários instrumentos dentro da parte técnica, onde estavam o Robertinho e a
Emilinha. Um técnico deu o play e eu ouvi toda a base pronta. A única coisa “real” era a guitarra do
Robertinho do Recife. O resto foi criado pelo Lincoln com os chamados
“módulos multitimbrais”, que nada mais eram a música computadorizada, uma
tecnologia onde já existiam todos os instrumentos musicais gravados. O Lincoln
fazia tudo sozinho e arranjava toda a música com essa técnica. Uma inovação
naquela época no Brasil. Ele foi pioneiro! Foi uma das primeiras gravações do
Lincoln utilizando esse recurso. A sonoridade dele era única.
Lincoln Olivetti e seus famosos módulos multitimbrais (imagem ilustrativa): pioneirismo na música brasileira
🎶Mais Convidados
Era certo que Patrícia e Luciano
seriam o destaque do disco, mas eles não eram conhecidos o suficiente para
segurar a divulgação sozinhos. Massadas e Sullivan queriam tudo que agradasse à
criançada e também nomes de sucesso para impulsionar o disco, mesmo que não
tivessem ligação com o universo infantil. Vieram Vanusa, Sérgio Reis, Martinho
da Vila e o grupo Absyntho.
🎠A Carruagem vira o
Clube da Criança
Todos os discos infantis de
sucesso da época vinham de algum programa de TV: Turma do Balão Mágico, Pluct
Plact Zuum, Arca de Noé, Pirlimpimpim e a Rede Globo detinha os
direitos das trilhas. Fora desse domínio, quem despontava era Xuxa no comando do Clube da Criança, na
Rede Manchete.
Estava decidido: o Clube seria o principal instrumento de
divulgação do disco. Portanto o nome tinha que ser “Clube da Criança”, até
para que se criasse uma referência na cabeça das crianças: “o disco do Clube da
Criança”. Tudo perfeito se não fosse um probleminha: Xuxa, a “sócio fundadora”
desse Clube não queria de jeito nenhum participar, pois não sabia cantar.
Como fazer um disco do Clube sem
Xuxa? Paralelamente a isso, Massadas e Sullivan já tinham convidado dois nomes
do universo infantil: o palhaço Carequinha,
que também tinha uma atração na Rede Manchete e Sérgio Mallandro que, apesar de não ter um programa infanti,l já conquistava
a simpatia da garotada.
Quarteto Fantástico: Carequinha, Xuxa, Patrícia e Luciano. Xuxa e Carequinha já eram estrelas da Manchete, Patrícia e Luciano seriam as estrelas do disco
👑Xuxa
Se tem uma coisa que ninguém
nunca vai poder falar de Xuxa é que ela se acha cantora. Mesmo depois de
vender milhões de discos, o que certamente lhe daria argumentos para aceitar a
condição, ela sempre afirmou: "não sei
cantar". Imaginem, então, ela aos 20 anos, sem nunca ter
pisado num estúdio de gravação... “Na cabeça dela, era a mesma coisa que fazer
um jacaré voar” lembra Massadas.
Por isso mesmo, Xuxa tem uma
participação tímida no disco que levava o nome do seu programa e esse pouco não
foi fácil:
Para tentar convencê-la, marcamos uma
reunião na Manchete com ela e com o Miguel Plopschi. Levei a letra de “Carrossel
de Esperança” para que ela pudesse ter uma dimensão da nossa ideia. Eu ainda
não a conhecia pessoalmente.
No dia desse encontro, o Sullivan tinha
feito a melodia, mas eu não tinha acabado a letra, já estava quase na hora da
reunião e nada... Terminei a letra
dentro do metrô a caminho da emissora. Era tudo ou nada, era a chance de ter
Xuxa no disco. Não podíamos errar.Cheguei, chamei o Miguel num canto e mostrei. Quando a Xuxa ouviu, ela
ficou com cara de perdida, no final dessa reunião o que sobrou foi um ponto de
interrogação. Não convencemos, ela disse que ia consultar a mãe dela, o Dico
(Pelé)...Ela tinha muitas dúvidas se
participava ou não, pois ela não sabia cantar.
Quando ela falou em consultar o Pelé, veio a
ideia: vamos chamar o Pelé, isso vai deixa-la mais segura. E não deu outra. O
Pelé topou na hora e ela se convenceu.
Xuxa e seu autojulgamento: não sei cantar! (mas sabe encantar, loira...)
🙏Finalmente o disco!
Com todo o elenco definido e suas
respectivas canções, o disco alinhou 14 músicas que traduziam bem o clima do
programa da Rede Manchete.A direção artística
foi de Miguel Plopschi (compositor
e ex-integrante do The Fevers) e a produção de Guti Carvalho (que também produziu, entre outros,
“Profana” de Gal Costa -1984 e o primeiro disco do Kid Abelha).
▶️1. É de Chocolate
Como definiu Massadas, a música
de abertura precisava ser “arrasadora” e assim foi. Já falamos da faixa e seu
processo de gravação, mas vale lembrar que, exatamente dez anos depois do lançamento da versão original, “É de
Chocolate” foi regravada por Xuxa para o repertório do seu disco “Sexto
Sentido”(Som Livre – 1994).
A faixa original ganhou seu primeiro registro
em CD no último disco do Trem da Alegria (uma coletânea com algumas faixas
inéditas, lançada em 1992).
Um clipe foi feito pela gravadora
para divulgação e Patrícia e Luciano participaram de vários programas, sendo um
dos mais memoráveis a apresentação no concurso Miss Brasil 84, exibido no SBT.
Abertura arrasadora: É de Chocolate se tornou o maior sucesso do disco
▶️2.Carrossel de Esperança
Carrossel de Esperança se tornou a segunda música mais famosa do disco. A faixa que foi a “isca” para Xuxa
acabou não tendo os vocais da loira (embora seja creditada a ela) e as atenções
ficaram com o grupo Roupa Nova, que
estreava na RCA Victor. Foi primeiro trabalho deles na gravadora. Um chamariz e
tanto pro álbum pois a banda já tinha público cativo e estava em ascensão.
Como parte da estratégia de
divulgação, um clipe foi gravado no Playcenter (antigo parque de diversões de
São Paulo) e uma versão da faixa sem os vocais do Roupa Nova era utilizada para
que Patrícia e Luciano pudessem apresentar a música nos programas e shows que
participavam.
A faixa apareceu em inúmeras compilações infantis lançadas nos anos seguintes pela RCA e foi regravada por vários artistas, como Mariane e Celso Portiolli (até ele!). A gravação mais recente é a de Michel Teló e foi lançada no disco Michael Sullivan apresenta "Carrossel de Esperança", de 2017.
▶️3.O Mundo Encantado de Um Palhaço
Carequinha é o homenageado da
vez. Patrícia e Luciano cantam versos cheios de carinho ao mais famoso palhaço
da TV: “quem quiser encontrar o amor,
siga sempre seus passos / Se quiser acabar com a dor, ele tem um abraço”. A
composição traduzia bem um sentimento de Massadas:
O Carequinha era meu ídolo quando criança.
Mesmo antes da TV, eu já participava dos shows que ele fazia. Ele não poderia
faltar no disco.
O palhaço Carequinha era
interpretado pelo artista George Savalla
Gomes e nos deixou em 05/04/2006, aos 90 anos. Lançou discos, atuou em
filmes e participou de vários programas de TV, além de ter seu próprio programa
na TV Manchete: O Circo Alegre do Carequinha.
▶️4.Dartagnan e
os Três Mosqueteiros
Se você se acostumou a ouvir pelo
menos uma música dedicada a um desenho animado nos discos do Trem Alegria,
saiba que tudo começou aqui. D’artagnan
e os Três Mosqueteiros é uma versão do tema oficial do desenho animado espanhol
D'Artacan y los Tres Mosqueperros.
O desenho é de 1981, mas foi comprado pela TV Manchete para ser exibido no
Clube da Criança. Anos depois o SBT adquiriu os direitos e passou a exibí-lo.
Como o nome já fala, é uma versão animada do clássico “Os Três Mosqueteiros”,
porém todos os personagens são cachorrinhos. A Julliete da música é a camareira da rainha. por quem D’artagnan é apaixonado.
▶️5.A Moda do
Sapo
“O LP era cheio de suportes para dar certo” lembra Massadas.
Certamente um desses suportes era a presença de Sérgio Reis. O cantor já tinha uma discografia sólida naquela
época, além de ser uma das estrelas do catálogo da RCA Victor (desde 1973). Sérgio estava em alta pois tinha lançado, em 1983, um dos maiores sucessos de toda
sua discografia: “Panela Velha”. Quem
não conhece? A incursão de Sérgio no universo infantil veio através da “Moda do
Sapo”, uma espécie de ciranda (“bate
palma pra dentro, bate palma pra fora”). Patrícia e Luciano também dividem
os vocais com o cantor.
▶️6.Xuxa Xuxu
O primeiro destaque de Xuxa no LP
é uma música feita em sua homenagem. A canção traduz o carinho que as crianças
do Clube tinham por ela e a vontade de brincar junto. Composição de Juninho
Ferreira(que também compôs Sete Quedas para o disco “Xuxa e seus Amigos” – 1985) e
Edgard Barbiere, Xuxa Xuxu fala do
lado menina da apresentadora (“Xuxa
criança também, Xuxa menina também”). Era interessante frisar esse lado,
pois Xuxa vinha da carreira de modelo em que a imagem que as revistas mais queriam
vender era a de mulher sensual e ali, junto às crianças, esse lado não tinha
vez. Era a amiga das crianças e pronto. Os vocais são de Patrícia e Luciano.
▶️7.Meu Ursinho
Blau Blau
A música não foi feita
para o disco, Meu Ursinho Blau-Blau foi lançada um ano antes, em 1983, e
estava tocando bem em todas as rádios, mas o grupo Absyntho, que cantava a música, ainda não tinha lançado nenhum
álbum no mercado (apenas um compacto de 7’). Era unir o útil ao agradável: a
música sairia em um álbum e também serviria de chamariz para o LP do Clube.
Nessa época a música Meu Ursinho Blau-Blau
já estava estourada, era um gancho que serviu de apoio para o disco. Era
preciso dar certo. O Absyntho não teve LP na época, só três compactos. Então
foi também a chance deles incluírem a música em um álbum. (Paulo Massadas)
O processo de criação também
passou pelas mãos de Massadas (ainda na BMG), que se incumbiu de transformar a
faixa “Na Toca da Ilha” naquilo que hoje conhecemos como “Meu Ursinho
Blau Blau”.
Sylvinho, o vocalista, deu alguns
detalhes:
"Éramos uma garotada com uma banda de
"rock and roll" de estilo pesado mesmo. Fizemos umas músicas e
levamos para a BMG. Eles ouviram uma canção que tínhamos, "Na Toca da
Ilha", e falaram: "Vamos mudar essa letra para algo mais
popular". Deram a letra para o Paulo Massadas e aí nasceu "Meu
Ursinho Blau-Blau”. (Declarações
ao jornal Folha de São Paulo, em 13/01/2001)
E Paulo arrematou:
O Miguel Plopschi, diretor artístico, me
chamou e disse que tinham uns rapazes de uma banda nova que tinham uma música e
queria que eu fizesse a letra. Eles começaram a cantar “lalalala, ui Blau
Blau”. O “blau blau” já existia, era uma espécie de onomatopeia que eles
criaram, apenas um som e não um personagem. Eles mostraram a melodia, o “blau
blau” e falaram: agora você coloca uma letra. Aí eu pensei: o que tem a ver com
Blau Blau? Eu levei uns 15 dias tentando descobrir como eu poderia dar um
significado para “blau blau”, quase desisti, até que me lembrei de um
documentário que eu havia assistido na TVE que falava de garotas que dormiam
com bichos de pelúcia.
Pensei: é isso! Blau Blau vai ser um ursinho
de estimação, amigo e confidente. E como o vocalista não era uma menina e sim
um rapaz jovem, chamaria muito mais atenção. E foi um tremendo sucesso.
▶️8.Debaixo do seu Nariz
Rá! Só por esse início já dá para saber quem era o convidado da
faixa... Sérgio Mallandro, mas a
canção não tem nada de “pegadinha do Mallandro”. É uma das letras mais
bonitinhas e ensina que a felicidade está nas pequenas coisas, “bem debaixo do seu nariz”. Se não
fosse pelas brincadeiras faladas de Sérgio no meio da faixa daria até para se
pensar “mas é o Sérgio Mallandro mesmo?
Aquele meio louquinho?”
A faixa foi feita pensando nele,
como conta Massadas:
O Serginho já tinha uma projeção com o lado
infantil, a garotada também gostava, não era só o adulto, por isso o chamamos.
Por mais que ele fosse amigo da Xuxa, isso não foi determinante.O ato de compor é muito interessante, é quase
uma incorporação. Quando a gente já sabe qual artista vai cantar, a gente tenta
imaginar como ele imaginaria a letra.
▶️9.Recado à
Criança
Quando se fala em Pelé cantando, apostamos que você se
lembra do “ABC... ABC”, embora essa
música também tenha a ver com nosso assunto, não é hora de falarmos dela
(ainda). Em “Recado à Criança”, Pelé é o
compositor e o cantor. O jogador não tem seus melhores momentos na função,
mas o faz com boa intenção, pois tinha consciência de sua influência na
garotada que o via como ídolo no esporte.
Recado à Criança foi apresentada pela primeira vez no Especial de Natal do Clube da Criança de
1983. Pelé cantou a música ao vivo com o acompanhamento de um violão.
▶️10.Lápis de Cor
Quando se ouve “Lápis de Cor”, talvez você não consiga
imaginar uma outra cantora no lugar de Xuxa, mas se for mais atento, vai
encontrar algo que remete ao estilo de Rita Lee. Como disse Massadas, Xuxa tinha o potencial de fazer a
“ritaleezação” da música infantil:
A ideia de Lápis de Cor era fazer uma coisa
mais Rita Lee, mais sussurrada, já que Xuxa não queria evidenciar tanto a voz.
A música foi feita pra Xuxa cantar, respeitando seu timbre e todas as
limitações que ela tinha de voz. Como não era a faixa de abertura do disco, não
precisava ter grande impacto, então fizemos algo mais gostosinho, docinho. O
objetivo era Xuxa participar, então éramos nós que tínhamos que nos adequar a
ela.
A Xuxa sempre teve a favor dela um
autojulgamento muito bom. Ela sabe quando pode e quando não pode. E desde o
começo, ela deixou bem claro: “eu não sei cantar”. E isso foi ótimo, pois
pudemos ajudá-la da melhor maneira possível. E ela aceitou toda aquela ajuda.
Xuxa já contou que chegou a beber
doze copos de água para conseguir gravar, Massadas lembra que isso acontecia
porque ela ficava rouca rapidamente.
E a mistura de água, boa vontade,
profissionalismo e ajuda de quem sabe causou boa impressão. Olha só o que disse
a Veja sobre a estreia de Xuxa como cantora:
▶️11.Circo Alegre do Carequinha
Segunda música de Carequinha no
disco, essa era também o tema de seu programa que levava o mesmo nome e era
exibido na Rede Manchete. O programa “Circo Alegre do Carequinha” estreou
alguns meses depois do Clube da Criança, em 17/10/1983.
▶️12. Dorme Meu Bem
Entramos na leva de canções mais
calmas do disco, estrategicamente alocadas ao final como se fosse hora de
“desligar” a garotada. Vanusa canta
com Luciano uma espécie de diálogo entre mãe e o filho, que chama pela mãe após
um pesadelo e não quer mais dormir. Uma delicada canção de ninar. Vanusa já
fazia parte da RCA Victor há algum tempo e a maioria de seus discos saiu pela
gravadora.
▶️13.Sonhos de Criança
Se na faixa anterior o destaque
foi de Luciano, agora é a vez de Patrícia. Ela faz dueto com Martinho da Vila, outro importante nome
da gravadora desde 1969. Composição do próprio cantor, “Sonhos de Criança” traz citação da cantiga popular “O Cravo e a Rosa”.
Hoje a canção pode causar certo espanto pelos versos “o cravo transou com a rosa”, mas é preciso se lembrar que no final
dos anos 70 e início dos anos 80, o verbo “transar” não tinha a conotação
exclusivamente sexual de hoje. Era um verbo “multiuso”: namorar era paquerar e
era transar.As coisas bacanas ou não,
em geral eram transas. Transar era fazer, brincar, curtir… Então nada de criar
polêmica onde não tem.
A música também segue na linha
mais calma, diminuindo o pique para preparar a garotada para o encerramento do
disco.
▶️14.Eu Vi
Imaginem uma música que toda mãe amaria...
é essa! Fala exatamente tudo que nossas mães nos ensinam a fazer antes de
dormir, da forma mais simples e didática. “Eu
vi que é hora de dormir... mas antes vou guardar meus brinquedos pra amanhã,
guardar também minha lição e antes de deitar, meus dentes escovar e depois
fazer minha oração”.
Dá até pra imaginar alguma mãe de
noite falando: “menino, vamos fazer igual
a música da Xuxa, vamos?”... Pois é, a loira cantava essa música no
encerramento do Clube e se tornou uma das marcas do programa. A música já
existia mesmo antes do disco sair, porém com arranjos bem diferentes do
registro oficial.
Trazê-la para o disco foi uma forma de reafirmar a
necessidade de se criar um vínculo com o programa, facilitando a assimilação
pelas crianças.
🎧Formatos e divulgação
Tanto se fala no LP do Clube da
Criança – ou “disquinho do Clubinho”, como Xuxa preferia dizer – que a gente
quase esquece que ele também foi lançado em fita K7. A fita, por razões óbvias,
não tinha grandes atrativos, diferente do LP que, além da capa e contracapa bem
coloridas, trazia internamente todas as letras das faixas numa segunda capa
interna.
Clube da Criança em LP e K7
Cadê a estrelinha azul que tava aqui? hahahaha quem percebeu a diferença?
Inicialmente foram liberados dois
discos single: um para É de Chocolate e outro para Lápis
de Cor. A arte principal das capas é a mesma, mudando apenas os
convidados da vez.
Os discos-single foram distribuídos às rádios antes do lançamento do disco
Um fato curioso é que podemos ver
uma capa “alternativa” para o LP principal, que ainda não tinha saído. A arte
foi feita por Elifas Andreato, já
consagrado por realizar capas de discos para Toquinho (Aquarela), Vinícius de
Moraes (Arca de Noé 1 e 2) e Chico Buarque (Ópera do Malandro).
Qual vocês preferem? A provisória ou a definitiva?
Na TV, o disco ganhou um comercial com direito a uma exclusiva locução de Xuxa ao final. A exibição, obviamente, era na Rede Manchete.
A mídia impressa recebeu anúncios do disco, entre abril e maio,
e também cupons de desconto,
veiculados em gibis da Editora Abril, no mês de outubro. Esses cupons davam o
abatimento de Cr$1000,00 (cerca de R$5,00 hoje) na compra do LP ou da K7.
Anúncio publicado nos gibis da Editora Abril no mês de outubro de 1984
Falando em cupom, dentro do disco
vinha um para que a criança se tornasse “sócia” do Clubinho e ainda concorresse
a prêmios sorteados por Xuxa e que também valia uma entrada no Playcenter.
Anúncio veiculado nas revista da Editora Bloch em maio de 1984
Com o disco já lançado, saiu ainda um compacto 7’ com 4 faixas: Carrossel de Esperança, Lápis de Cor, Xuxa Xuxa e Moda do Sapo. Era a RCA apostando alto!
O compacto de 7' reafirmava Carrossel de Esperança como segunda música de trabalho do disco
🎉Festas de lançamento
O disco foi o primeiro projeto infantil da gravadora RCA
e ela já o aclamou com ares de grande estrela. Duas festas, uma em São Paulo e
outra no Rio, foram realizadas para apresentar o disco à imprensa.
São Paulo
Realizada na discoteca Dancing,
no dia 19/03/1984. A festa reuniu quase todos os intérpretes do disco. As
atenções, claro, ficaram para Xuxa, Patrícia e Luciano. Cerca de 1000 pessoas
se aglomeraram na boate para ver de perto os cantores. A ausência da noite foi
Pelé, que tinha outros compromissos, mas mandou seu filho, Edinho, para
representá-lo.
Rio de Janeiro
No dia seguinte, 20/03/1984, a
festa aconteceu na boate Studio C. Estava todo mundo lá de novo e, dessa vez,
Pelé apareceu e ainda cantou Recado à Criança com Patrícia e Luciano. Sérgio
Mallandro, Vanusa, Roupa Nova... como disse a revista Manchete: “esse clube tem espaço para todos”
(07/04/1984).
🏅Vendagem
E as apostas deram certo: de acordo com Paulo Massadas, em menos de 1 mês, o Clube
da Criança ganhou o disco de ouro e vendeu 100 mil cópias. Em dezembro daquele ano, o álbum já havia vendido 250 mil. Patrícia e Luciano chegaram a ir ao programa do Velho Guerreiro receber a certificação.
A vendagem final foi informada pela revista Afinal, em matéria sobre o já consolidado Trem da Alegria, em 1988: 350 mil
cópias vendidas, garantindo disco de
platina duplo (na certificação da época). Um excelente número de estreia.
❓Curiosidades
Existiram faixas descartadas? Em entrevista à revista do Mickey,
publicada em maio de 1984, ao ser perguntada sobre sua estreia como cantora, a
loura conta algo interessante:
Toda criança gosta de ouvir historinha e
músicas, né? Então gravei um disco onde conto a história de uma princesa que...
bom, só sei que procurei transmitir uma mensagem de valor para todo mundo. Além
de contar a historinha, canto outras três músicas e o disco conta ainda com a
participação do Pelé, do Sérgio Mallandro e da turma do “Ursinho Blau-Blau”.
Clube da Criança – volume 2!Sim, houve o projeto de um novo disco
para o Clube, mas com a chegada de Juninho Bill e a formação do Trem da
Alegria, o que seria o volume 2 do Clube
se tornou o disco de estreia do Trem da Alegria. E a ordem era não mexer em
time que estava ganhando, tanto que alguns convidados são os mesmos: Pelé,
Carequinha e, claro, Xuxa. Em março de 1985, Xuxa e Pelé entraram em estúdio
para gravar algumas faixas, a imprensa chegou a noticiar o nome das músicas,
que acabaram reaproveitadas no LP do Trem.
Lembraram do ABC... ABC...? Pois é, seria para o Clube da Criança 2
🌈Xuxa menina também...
Hoje, 35 anos depois, conseguimos
ver o quanto o destino já estava traçado. Quem diria que aqueles versos lúdicos
de “Lápis de Cor”, seriam realidade? “Uma nave pra você viajar... Essa vida é
doce... Se eu pudesse ser um dia uma fada, seu desejo iria realizar...”
Sem saber, Massadas previu todo o universo que Xuxa construiria. A moça que não sabia cantar se
tornou a recordista em vendas de discos no país, a voz tímida arrastou
multidões e aquele lápis de cor pintou até um arco-íris.
Xuxa modelo, Xuxa apresentadora,
Xuxa cantora...
na formação de tudo: Xuxa menina também!
🏆Nosso agradecimento especial aos queridos Paulo Massadas e Sandra, que sempre numa gentileza ímpar, nos conduzem nessa volta ao tempo de maneira tão atual, fazendo com que 35 anos fosse como ontem. Muito obrigado por tudo!
Perfeita a materia. Assim como as outras postagens sobre os discos. Ainda sobre o Clube, em 84 o lp saiu em porrugal pela rca junto com um compacto de "é de chocolate/ carrocel de esperança" com a mesma capa do single brasileiro.
Vocês são sem comentários,nem preciso me cansar de elogiar o blog que melhor detalha a carreira de Xuxa. Quanto ao disco, apesar de ter uma grande ausência da Xuxa em muitas das suas canções, o arranjo e a produção em sí são lindos. Se "Carrossel de Esperança" tivesse sido interpretada pela loir iroa ser mais bonita ainda. Ah! Detalhe para o trecho da matéria de 02/04/1984 da revista Contigo, na qual é citada a festa de lançamento no Rio, na boate Studio C, e em to de ironia, o autor diz que para "desespero de muitos" a "noivinha" de Pelé iria cantar acompanhada do mesmo, mal sabia ele e eles que ela se tornaria a mulher que mais vendeu discos no Brasil (sem ser cantora, hein?!) e a apresentadora infantil que mais vendeu disco na história.