Na semana passada, a Equipe X – responsável
pela postagem de vários conteúdos nas redes sociais oficiais de Xuxa – nos
brindou com mais um #tbt (throw back Thursday,
ou, em tradução livre, algo como quinta-feira da saudade) de deixar qualquer fã
da loira satisfeito.
A foto escolhida é de 1991, um
clique do fotógrafo Xicão Jones durante as gravações do comercial da sandalinha infantil “Love Xu”, que era
fabricada pela Grendene.
De lá para cá, sandalinhas,
sapatinhos e botinhas de diversos modelos com o nome de Xuxa foram surgindo em
número cada vez maior. XuxaLOVE, Xuxandália, BootXu, ClockXu, LoveXu,
Dançalinha, XuxaStar, Xuxete, Xuxa SweetHeart... a variedade era diretamente proporcional ao faturamento
da empresa. Como já era de se esperar, tudo que envolve sucesso parece atrair uma necessidade das pessoas em criar polêmica. Imaginem então se o sucesso vier atrelado ao nome de Xuxa... Nem mesmo as famosas sandalinhas passaram ilesas à vontade do ser humano em criar histórias – maldosas – em busca de leitores, cliques e visualizações.
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A linha de calçados Xuxa-Grendene lançou diversos modelos entre os anos 1986 e 2013 |
Foi justamente esse comercial lembrado
no #tbt que gerou uma discussão infundada e que parece não
ter fim nas redes sociais, afinal é sempre mais fácil compartilhar o que gera mais
views do que a verdade. Uma pena que nem sempre essas duas coisas andem juntas.
A polêmica
O comercial, produzido pela
agência de publicidade W/Brasil do
renomado Washington Olivetto, foi veiculado na TV aberta brasileira no final de 1991 para divulgar o lançamento da Grendene. Naquela época a empresa
colocava dois modelos de sandálias
(ou sapatos) com o nome de Xuxa à venda por
ano.
Entretanto, em 2012, o diretor do vídeo, Júlio Xavier, postou em seu canal no YouTube uma versão em inglês (e inédita) do comercial. O pontapé inicial para a polêmica foi dado... literalmente.
Não demorou muito para o vídeo viralizar e sabem aquele papo de sucesso = Xuxa? Mais uma vez se comprovou: o vídeo se tornou o mais visto, até hoje, no canal do diretor. Para vocês terem uma ideia: são pouco mais de 250 vídeos postados, quase todos de comerciais antigos. Tem Pelé, atores globais, marcas consagradas... e a média de visualizações é pouco acima de 1,5 mil. Sabem quantas visualizações a “Love Xu” tem? Mais de 794 mil. Sim, SETECENTOS E NOVENTA E QUATRO MIL views. Isso é motivo de se comemorar? Seria... se não fosse a lenda que se criou ao redor do vídeo.
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Nem se somarmos as visualizações dos demais vídeos, se chega ao que a "Love Xu" alcançou |
Com a repostagem do vídeo por outros canais, criou-se uma
história que ninguém sabe como e onde começou: "o comercial teria sua veiculação
proibida nos Estados Unidos". Tudo porque supostamente teriam associado as falas
das meninas a filmes adultos, representando uma “afronta aos bons costumes
americanos”. De onde veio isso? O diretor nunca colocou tal informação na descrição do vídeo. A postagem original está lá para quem quiser ver, há mais de 5 anos!
O mais incrível nisso tudo? A
extensão alcançada por um boato! O vídeo se tornou o “comercial proibido da
Xuxa”! Até mesmo publicações que conquistaram certa credibilidade e têm um
público cativo embarcaram nessa. Um exemplo é a revista Mundo Estranho, da
Editora Abril, que chegou a se dar ao trabalho de construir uma arte com imagens do vídeo e incluir a sigla XXX perto do nome da sandália. Para quem não sabe,
XXX é um indicativo de conteúdo sexualmente explícito. Construir uma notícia baseada em descrição de vídeo repostado em canais que não são os oficiais... qual a credibilidade disso? Pelo jeito não se
preocuparam em checar as informações com a equipe de Xuxa ou Washington
Olivetto...
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Realmente vivemos num "mundo estranho", onde notícias são publicadas com base em afirmações não confirmadas e todo mundo passa a crer nisso... |
A versão em inglês
Então o comercial foi exibido
normalmente nos Estados Unidos? Não! A versão em inglês desse comercial nunca
foi ao ar, mas não por ter sido proibida e sim porque esse vídeo existe com um
propósito totalmente diferente.
Daniela Romano, assistente pessoal de Washington Olivetto, em conversa com o Xuper Blog, contou que a versão em inglês foi produzida para um festival de publicidade da época, sendo jamais exibida em qualquer emissora de TV. E, como sabemos, realmente não faria o menor sentido, já que o programa de Xuxa nos Estados Unidos só estreou em setembro de 1993. Mesma época em que vários produtos com o nome de Xuxa foram postos no mercado norte-americano, mas nenhuma sandália com o nome “Love Xu”.
Daniela Romano, assistente pessoal de Washington Olivetto, em conversa com o Xuper Blog, contou que a versão em inglês foi produzida para um festival de publicidade da época, sendo jamais exibida em qualquer emissora de TV. E, como sabemos, realmente não faria o menor sentido, já que o programa de Xuxa nos Estados Unidos só estreou em setembro de 1993. Mesma época em que vários produtos com o nome de Xuxa foram postos no mercado norte-americano, mas nenhuma sandália com o nome “Love Xu”.
E como explicar as declarações da Veja de que Xuxa já tinha vendido cerca de 1 milhão de pares de suas sandalinhas em solo americano em pleno 1991? Estão lembrados que o Show de Xuxa era transmitido para as comunidades “habla hispana” dos EUA? Essas comunidades representam cerca de 14% da população americana; algo em torno de 40 milhões de pessoas... Vender 1 milhão de pares da sandalinha da apresentadora que estava todos os dias na TV alegrando os niños que habitavam os EUA não parece tão impossível assim, parece?
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O programa Show de Xuxa era retransmitido pela Univision, emissora de TV americana que transmite sua programação em língua espanhola, o que explica as vendas favoráveis nos Estados Unidos |
Querem mais? Apostamos que 99,9% das pessoas que viram o comercial e se “escandalizaram” com as falas das meninas, não repararam que o comercial sequer tem o logotipo do fabricante ao contrário da versão brasileira. Acham mesmo que a Grendene pagaria para divulgar seu produto na terra do Tio Sam sem ao menos frisar sua marca na cabeça dos consumidores?
Que fique claro: não existe
nenhuma declaração oficial, nem da Xuxa, nem de sua equipe, nem do diretor ou
da agência de publicidade responsável dizendo que o vídeo foi proibido. Toda
essa história foi baseada em suposições, na mais pura vontade de polemizar.
O vídeo pode causar uma
interpretação de duplo sentido na parte das garotas? Pode, se você tem isso em
mente ou se lhe é conveniente. Já que o problema são as falas em inglês, fica a
dica: “you only see what your eyes want to see”...
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A caixinha da "Love Xu": por que não se perguntam o motivo de usarem uma imagem de 1987 numa embalagem de 1991, ao invés de inventarem proibições que não existem? |
Quantos registros existem na imprensa brasileira, datados da década de 90, noticiando o possível duplo sentido das falas das meninas? Todos nós sabemos o quanto a nossa imprensa adora vincular o nome de Xuxa a conteúdos como "proibido", "oculto", "obscuro"... Percebem que toda essa história de proibição é recente e nascida no mesmo berço dos memes que nos divertem? Como antes ninguém se "escandalizou" com o comercial que era exibido nos intervalos matinais da Rede Globo?
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Vitrine de loja com a sandalinha em exposição em 1991: veiculação normal do comercial na TV, vendas indo bem e ninguém criando caso com o roteiro do anúncio. Isso sim é "saudade dos anos 90" |
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A polêmica sobre a proibição do comercial da Sandalinha Love Xu: Dizem que "uma mentira contada mil vezes se torna uma verdade", mas uma verdade dita a qualquer tempo derruba mil mentiras |